quarta-feira, 25 de abril de 2012

Nem tudo é cômodo para sempre...

Adentrei o cômodo.
Mesmo sabendo que nada restava lá, nada além de palavras riscadas pelas paredes e sorrisos escondidos em retratos. De nada importava o resto, era cômodo e isso bastava.
Lembro-me de sentar naquele chão e deixar minha mente voar como um bem-te-vi para além daquelas paredes. Depois o bem-te-vi voltava e escupia nas paredes o que tinha visto lá fora, as vezes, inventava. Bem, te vi nas paredes. Era assim.
Entrei despida de emoção, ouvi aquele reggae. Cantei, dancei, rompi o silêncio : sem emoção. Lembrança em pleno controle.
Na hora em que a paz regia o cômodo....

Incômodo virou.

Tudo tremeu, o teto se abriu e uma tempestade me encharcou, tive que me vestir. Meus olhos não se abriam pela chuva, pelo medo...
Cessou...tudo fora do lugar: palavras desconexas, sorrisos ironizando minha agonia.
O teto se fechou, parou...aparente calmaria.

Pude ouvir uma música se esvaindo como se não tivesse mais razão de existir cortando o silêncio deslocado. Eram cadências finalizando versos, colocando um ponto final na melodia. Infelizmente as notas soavam como um engano, elas tentavam se afirmar , mas desafinavam.
Num susto vi a luz voltar ao cômodo e revelar os entulhos que restaram. Nem música, nem frases e nem sorrisos encobriam a sensação de angustia . Sufocamento. Sentia que as paredes se aproximavam apertando os entulhos contra meu corpo. Talvez essa paredes tivessem boa intenção, quisessem juntar as migalhas, restaurar o cômodo. Mas nada era suficiente, aquele lugar não era mais aconchegante , era incômodo.
Tinha coisa demais lá dentro, mal podia respirar. Ouvi tudo que não queria ouvir, vi ou imaginei o que não deveria, senti a  dor que já havia curado...insuportável.

Tranquei a porta do cômodo, tal incômodo. e corri, pensei e não fui muito longe.
Sai de lá, mas jamais esquecerei o que vi, vivi e revivi dentro daquelas quatro paredes manchadas de vermelho e branco com riscos pretos.

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