Adentrei o cômodo.
Mesmo sabendo que nada restava lá, nada além de palavras riscadas pelas paredes e sorrisos escondidos em retratos. De nada importava o resto, era cômodo e isso bastava.
Lembro-me de sentar naquele chão e deixar minha mente voar como um bem-te-vi para além daquelas paredes. Depois o bem-te-vi voltava e escupia nas paredes o que tinha visto lá fora, as vezes, inventava. Bem, te vi nas paredes. Era assim.
Entrei despida de emoção, ouvi aquele reggae. Cantei, dancei, rompi o silêncio : sem emoção. Lembrança em pleno controle.
Na hora em que a paz regia o cômodo....
Incômodo virou.
Tudo tremeu, o teto se abriu e uma tempestade me encharcou, tive que me vestir. Meus olhos não se abriam pela chuva, pelo medo...
Cessou...tudo fora do lugar: palavras desconexas, sorrisos ironizando minha agonia.
O teto se fechou, parou...aparente calmaria.
Pude ouvir uma música se esvaindo como se não tivesse mais razão de existir cortando o silêncio deslocado. Eram cadências finalizando versos, colocando um ponto final na melodia. Infelizmente as notas soavam como um engano, elas tentavam se afirmar , mas desafinavam.
Num susto vi a luz voltar ao cômodo e revelar os entulhos que restaram. Nem música, nem frases e nem sorrisos encobriam a sensação de angustia . Sufocamento. Sentia que as paredes se aproximavam apertando os entulhos contra meu corpo. Talvez essa paredes tivessem boa intenção, quisessem juntar as migalhas, restaurar o cômodo. Mas nada era suficiente, aquele lugar não era mais aconchegante , era incômodo.
Tinha coisa demais lá dentro, mal podia respirar. Ouvi tudo que não queria ouvir, vi ou imaginei o que não deveria, senti a dor que já havia curado...insuportável.
Tranquei a porta do cômodo, tal incômodo. e corri, pensei e não fui muito longe.
Sai de lá, mas jamais esquecerei o que vi, vivi e revivi dentro daquelas quatro paredes manchadas de vermelho e branco com riscos pretos.
Guiada pela melodia do lápis e do papel...Sou apenas a mensageira de um tal Eu-lírico.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
quarta-feira, 11 de abril de 2012
De vaga em vaga....
Vai vagar por aí
Devagar
Vai devagarinho
Divagando e vagando
Vai, deveras, vagar
um espacinho em mim
Mas vai devagar
Ainda vou vagar um pouco, querubim!
Divago sempre...
Volta ! Não vaga mais
A vaga agora te espera
Se divagando, estou, que seja junto do seu vagar
Não quero mais ir devagar...
Devagar
Vai devagarinho
Divagando e vagando
Vai, deveras, vagar
um espacinho em mim
Mas vai devagar
Ainda vou vagar um pouco, querubim!
Divago sempre...
Volta ! Não vaga mais
A vaga agora te espera
Se divagando, estou, que seja junto do seu vagar
Não quero mais ir devagar...
Cânone
Difícil negar,
Impossível dizer não
Quando as bocas se calam.
Lábios escancarados,
Gritos, cânones.
Ouço sopros, gritos sopranos;
Difícil não dizer,
Impossível negar
quando os olhos cegam,
Invade um clarão,
Transporta o paraíso;
Impossível negar
quando o corpo quer abrir espaço,
Acolher.
-perdão!
-Não fale...
Cala-me.
Cega-me.
Canta comigo e nos calamos.
Impossível dizer não
Quando as bocas se calam.
Lábios escancarados,
Gritos, cânones.
Ouço sopros, gritos sopranos;
Difícil não dizer,
Impossível negar
quando os olhos cegam,
Invade um clarão,
Transporta o paraíso;
Impossível negar
quando o corpo quer abrir espaço,
Acolher.
-perdão!
-Não fale...
Cala-me.
Cega-me.
Canta comigo e nos calamos.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
A única exceção
A música tomava conta do interior do carro estacionado....
- Deitem a cabeça fora da janela. Agora abram os olhos e vejam o céu. Olhem as nuvens, como elas se movem...perfeição.
-É triste...
- Ahn, por que?
-É triste ter que questionar o porquê de não ter nascido um pássaro. E se eu fosse um teria pena, voaria olhando para baixo, sorrindo para quem não pode sentir as nuvens como eu sinto.
- Preciso confessar um fato : se me arrancassem a cabeça agora, morreria feliz com a imagem que ficaria gravada nos meus olhos
- Ai que horror! Mas...de fato.
- Preciso confessar um fato : se me arrancassem a cabeça agora, morreria feliz com a imagem que ficaria gravada nos meus olhos
- Ai que horror! Mas...de fato.
Não importa onde estou. Se o silêncio paira ou se uma voz canta lembranças minhas ou de quem me rodeia. Nada mais importa quando quem se ama está logo ao lado. Porém existe uma... talvez a única a exceção : hoje o céu foi capaz de roubar a cena, por um dia foi a palavra-chave, a razão de uma vida inteira.
Afinal, existe poesia mais bela que a escrita no céu pelas e nuvens e pelo sol?
Existe prosa mais emocionante que a amizade?
Junto a poesia, a prosa, a melodia que me envolve e vivo, vivo sem perder o sorriso...Sonho em voar, sonho em juntar todas as penas da minha vida e criar asas, voar...
Baseado nas reflexões de Regina Lemos e Kamila Silva.
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