domingo, 4 de dezembro de 2011

O tempo e a loucura sensata...

Ela passou, pulso e ombro tatuados, anéis de coco, violão nas costas, um jeito só seu de ser e um sorriso como nunca vi igual.
Faz tanto tempo, ela cresceu, mas não perdeu a essência que tinha quando ainda menina...
Ela brincava com uma amiga, passava dias e noites entretida. Inventavam histórias: dançavam ao canto dos pássaros, visitavam castelos, lutavam pela sobrevivência, tomavam o chá da tarde. Faziam de um tudo.

Ela tinha medo da loucura, sempre teve.

Um dia, brincavam na praia, a amiga se despediu e deixou-lhe uma flor, linda e vermelha,  entrelaçada em seus cabelos. Um garoto, ruivo, sentou-se para brincar, a menina tentou afastá-lo.Dizia querer ficar sozinha. Esbravejou, até o empurrou e o ruivo insistiu. A menina, assustada e contrariada, levantou-se e correu, correu como nunca havia feito, nem como quando brincava de pega-pega com a amiga. Olhava pra trás e via a distância se construir entre o ruivo e ela,gargalhava, mas quanto mais rápido ela corria e sentia a areia molhada , ele apressava o passo.Ele gritava algo, no entanto, ela tapava os ouvidos de pirraça e sentia as ondas tocar-lhes os pés. Correu e chegou a um lugar que não conhecia, sentiu-se perdida; O ruivo sumiu de sua vista.Ouvia as as pessoas dizendo que ele ainda corria, mas não o via.

Um alívio lhe tomou o espirito por ter se afastado do garoto ruivo, inconveniente. O medo da loucura persistia.

Já não era mais uma criança.Avistou os 15 se aproximando. A amiga acompanhou seus passos.  Se envolveu nos segredos da adolescência, escreveu e leu histórias com a amiga, histórias tão marcantes quanto as que as duas inventavam na infância.Chorou, gritou, sofreu a dor da primeira paixão.Viveu os dramas dos recém saídos da meninice,viveu deveras, problemas bobos, mas que eram motivos para viver, tudo isso no colo da amiga.

Numa festa, dançava sozinha, quando um garoto nela esbarrou e sujou seu vestido com refrigerante, ele era o ruivo, envergonhado dispoi-se a ajudar. Ela o olhou e num misto de vergonha e raiva foi ríspida ignorou a ajuda e se afastou. Nem dele se lembrou.

E mais uma vez o ruivo sumiu de vista. E o medo, ainda,  ali residia.

Passou, passou!!!, gritava a amiga. Passamos nos vestibular!!! As duas corriam, pulavam, berram, a menina quase não cabia em si. A maioridade chegava para a felicidade da mocidade.Curtiu cada segundo da vida de universitária, fez amizade para um vida inteira,apesar de passado rápido,  viveu todas as maluquices que podia com a amiga ao seu lado. Chegou ao fim, colação, formatura, era o fim de mais uma fase.

No baile de formatura, olhou pra trás, pensou ter enxergado um vulto acobreado passar correndo na multidão, mas naquela noite nada era certeza.A única certeza que tinha era que muitas pessoas estavam perdidas pelo salão e que o copo não saíra nem um instante de sua mão. Só a comemoração se fazia presente na memória.

Foi-se algum tempo, a amiga e ela, resolveram voltar a praia que costumavam brincar. A menina olhou atrás ao longe, gostou do que viu, um homem de barba feita, viu as roupas o corpo bem formado, a luz refletiu no relógio, num grande relógio do rapaz e a cegou não pode ver mais nenhum detalhe. A amiga sentou-se em um quiosque a beira-mar, dizia à menina que os pés cansavam. Mentia. Sensata queria que o rapaz se sentasse, parasse por um instante.

Uma sombra cobriu seu ombro tatuado e uma flor, um pouco murcha, mas ainda bela e vermelha, fez-se presente na mesa. A amiga e a menina olharam o rapaz, o ruivo, o garoto da praia, da festa, da multidão...
    - Foi difícil correr e  esperar você me deixar aproximar! Aqui está a flor que você deixou cair na praia quando ainda menina.

 Feitas as pazes por tantos desencontros, o ruivo estava ao seu lado caminhando, finalmente, o tempo parara de correr. A loucura estava ali, sempre esteve, abrindo-lhe os olhos para o mundo, para as pessoas que desejavam sua presença.

Ela passou, pulso e ombro tatuados, anéis de coco, violão nas costas, um jeito só seu de ser e um sorriso como nunca vi igual.As mãos entrelaçadas nas de um rapaz ruivo, a gargalhada voltada para a presença da amiga, sua companheira sensata.

Saudade é o preço que se paga pelo tempo que corre sem se ver e sem  se repetir...

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